sexta-feira, 19 de março de 2010

Análise da Poesia - Lucidez Perigosa

Professora formadora do Gestar II:
Gleiciane Regia dos Santos Mamede
Massapê – Ce

Análise da poesia de Clarice Lispector
A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.


Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

Essa poesia é de uma beleza tocante, pois mostra um ser humano consciente de seus anseios e de sua realidade, que parecem conflitantes. Deixa transparecer uma certeza da imensidão de uma força que está presa a uma forma de ser, a um não querer romper com a ilusão vivida, tornando-se uma lucidez dolorosa “inferno humano”.

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